22.12.04

Exercício 9 - Carta de Despedida

Material necessário:
Papel
Caneta

Inspiração:
Há alguém que decide partir, depois de uma difícil e longa reflexão, mas deseja explicar ao que fica todas as razões que o levaram a esse acto desesperado.


Exercício:
Tu és aquele que parte e que deixa uma longa carta de despedida com todas as explicações àquele que fica.


in, desafio: escrever

21.12.04

Composição Ex. 8 - No Sofá

Casei com a Joana há 6 anos. Sempre tivemos uma vida familiar saudável, sem extravagâncias, mas com o conforto que nos permitia dizer que tínhamos tudo o que precisávamos. O importante sempre foi garantir o futuro da Maria, a nossa filha. A nossa vida sexual nunca me desagradou e admito que à Joana também não. Pelo menos ela nunca se queixou.
O problema surgiu depois de, há uns tempos, ter começado a comer a minha vizinha do 5º andar. Digo-lhe que ela não é nada de especial, mas vi ali uma oportunidade e ela também não enjeitou a possibilidade de umas sessões de sexo selvagem e irreverente comigo. Não foi preciso muito. Ajudei-a, numa noite, a fazer as contas do condomínio e quando dei por mim já só fazíamos contas de somar: eu dizia os números e ela dizia mais, maais, maaais... Andávamos nisto há uns três meses quando, numa tarde em que saiu mais cedo, a minha mulher vai bater à porta da Isabel. Até hoje, foi a única vez que senti um arrepio de frio a percorrer-me o corpo. Se ela me descobrisse ali estava bem lixado.
A Isabel e ela são amigas. Se calhar, amigas não é o termo mais indicado. A Joana costuma falar com a Isabel de vez em quando.
Nessa tarde bateu à porta e a Isabel apareceu de roupão dizendo que tinha estado a dormir a sesta. Acha que a Joana se incomodou com isso? Naaada!! Perguntou logo se podia entrar um bocadinho pois precisava de desabafar. Se precisava de desabafar tivesse vindo ao psiquiatra ou ao psicólogo, não é? O dr. é bom para desabafar. Quando ela disse isso, quem precisou de desabafar fui eu. Abri logo a janela do quarto da Isabel com falta de ar. Então não é que a Joana entra e começa a dizer à Isabel que acha que eu tenho outra, que me ando a comportar de forma diferente e que já não a desejo. Se ela soubesse como eu desejava vê-la dali p’ra fora. Nisto diz que eu já nem lhe atendo o telemóvel e enquanto dizia “queres ver” começa a ligar o meu número. Tenho eu tempo para alguma coisa? Não tarda começa o meu telemóvel a tocar no quarto da Isabel. Grande estardalhaço. Salto para cima da roupa, que estava no chão, e, enquanto voo como um falcão pronto a agarrar sua presa, bato com a cabeça na cómoda do quarto que me deixa KO.

Depois disso... olhe, estou aqui.

Nesse dia não me deixou entrar em casa e no dia seguinte já tinha mudado a fechadura. Não me deu qualquer tipo de possibilidade de explicar a situação e deixou-me ao abandono sem mostrar qualquer espécie de ressentimento ou mágoa. Isto faz-se? Seis anos casados e trata-me desta maneira. O meu maior medo é não poder ver mais a minha filha. Se depender da mãe, sei que nunca mais lhe ponho a vista em cima. Só posso imaginar o que ela já lhe terá metido na cabeça... uma rapariga tão esperta, mas, sabe como é, nesta idade comem tudo sem pensar por eles e se a mãe quiser nem precisa do tribunal para me afastar dela, basta contaminar a sua cabeça com cobras e lagartos acerca de mim. Desta cena toda ao tribunal e do tribunal aqui foi um passo. A juíza até é porreira, mas é mãe e... é mulher. O dr. percebe, né?
Enfim... Com isto já passou a nossa meia hora. Sabe dr., esta vida é uma tristeza. Até p’rá semana.

N.C.

Composição Ex. 8 - Sou Um Cão

- Não doutor, tenho consciência que estou mal e venho pedir ajuda pela sétima vez este ano. Não consegui abstrair-me deste encarceramento em que me encontro.
Sinto que estou pior. Eles ladram. Todos os animais ladram e até o som do autocarro a chegar à paragem, faz um ruído estridente que culmina com um latido de um cão a sofrer. É horrível. Os animais latem o dia todo, os donos respondem a ladrar e de repente vejo-me com a cabeça numa dormência doentia que me leva ao desespero. Chego a cair para o chão com as mãos nos ouvidos numa surdina estonteante e dou por mim a latir. Já no hospital, não sei quanto tempo depois, com sedativos, tento abrir os olhos devagar…não sei quem me trouxe desta vez, e prefiro nem saber. A enfermeira tem na lapela o seu nome – Carminda. Olho-a com indignação e tenho vontade de lhe perguntar porque não escovou o pêlo de manhã. Está toda eriçada. Se eu fosse trabalhar naquela figura, mandavam-me directinho para casa. O Doutor está a olhar-me com surpresa, mas a esta altura já devia prever a minha queda. Não tenho cura mas posso viver devidamente controlado. Ontem, ainda no hospital, pelas 12.30h levaram-me o almoço à cama. Tinha o olhar fixo na televisão do quarto e solto um latido de contentamento. Mesmo deitado senti a cauda a abanar. Adoro ver o programa do almoço, porque a essa hora costuma passar o anúncio do PedroEgripal…e de repente fez-se luz na minha cabeça: Se levar umas argolas de PedroEgripal comigo cada vez q vou trabalhar…lanço-as para longe e o ladrar dos animais funde-se com o barulho típico da cidade, e assim aquela mistura explosiva de latidos e ganidos deixa de me fazer tanta confusão. Estou num dilema: PedroEgripal vegetal ou PedroEgripal carne?
A minha mulher gosta de mim. Diz que sou puro. Chegou a dizer-me que se fosse cão, tinha todas as probabilidades de ganhar um prémio. Ela diz sempre “se fosses cão”…até parece que não sou um verdadeiro cão! Antes de ir trabalhar ela analisa-me a boca: Lábios grandes, pouco espessos, não pendentes e bem sobrepostos. Céu-da-boca pigmentado de preto, assim como os bordos labiais. Dentes fortes, brancos, bem implantados. Doutor, só lhe digo: Pareço outro! Meio caminho andado para o dia me correr bem. Na paragem, enquanto o autocarro não vem, observo as pessoas e olho-as com compaixão. Nem toda a gente tem dinheiro para ter um pêlo destes e este é sem dúvida o pormenor que mais desperta a curiosidade dos passantes. É preciso muito óleo de fígado de bacalhau, muita vitamina B12. Por sua vez, como não quer a coisa, finjo que deixo cair a carteira e dou uma volta sobre mim, para me observarem bem. Rio-me para mostrar os meus dentes caninos, que estão sem uma cárie. No outro dia fiquei tão envergonhado…veja o Doutor que por causa de um problema de impotência, fui ao meu médico, o Dr. Veterinário Alberto Madureira. Depois de me ter auscultado, medido a tensão, deixou-me, por esquecimento o termómetro no recto. Só dei por isso quando um rafeiro alentejano me veio cheirar com ar superior e disse: “Epá! Cheiras-me a cão larilas”. Ups, fiquei para morrer.

M.L.

19.12.04

Exercício 8 - Homem Por Fora, Bicho Por Dentro

Material necessário:
Papel
Caneta

Inspiração:
Ele sente-se doente. E confuso. Marcou uma consulta num psiquiatra. Está, neste momento, deitado no divã.


Exercício:
O exercício anterior (Mistério em Forma de Mulher) forneceu-te 5 palavras que terás de utilizar no monólogo deste homem.
Ele conta ao psiquiatra tudo aquilo que o preocupa, incomoda e a razão porque o está a consultar.


in, desafio: escrever

17.12.04

Composição Ex. 7

1. Abandono
2. Medo
3. Conforto
4. Frio
5. Tristeza

N.C.

15.12.04

Exercício 7 - Mistério em Forma de Mulher

Material necessário:
Papel
Caneta

Inspiração:
É inverno. São 6 horas da tarde. Está escuro, faz frio e chove... muito.

Uma mulher jovem e bonita, parada no meio do passeio, protegida apenas pela gabardina que traz vestida, chora.
O rímel escuro, escorre-lhe pelo rosto e o cabelo, liso e comprido, cola-se à testa, à boca, ao pescoço.
Desces, debaixo do teu guarda chuva, essa rua e passas por ela.

Exercício:
Utiliza 5 palavras para descrever o que pensaste, sentiste, imaginaste, perante a situação acima descrita
.

in, desafio: escrever

14.12.04

Composição Ex. 6 - Parabéns

Os aniversários sempre lhe trouxeram algumas dores de cabeça. Ele não gostava de levar prendas e raramente levava. Há muito que acreditava que uma das funções da sociedade era a de contaminar os seus elementos com costumes sem qualquer significado, mas com muito interesse comercial. Em brincadeira dizia que a culpa era dos Reis Magos. Tivessem eles agraciado Jesus com a sua presença e benza, sem ouro, incenso e mirra e hoje não precisaríamos dos aniversários para oferecer um presente. Ele aproveitava os dias de não aniversário para mimosear os amigos com uma lembrança especial. Todos eles já tinham sido surpreendidos e todos eles reconheciam a beleza de tal acto.
Durante os seus longos anos de adolescência sentiu-se incompreendido por muitos que o rodeavam.
- Ele tem esta ideia e nem à faca vai ao lugar. – dizia frequentemente o seu pai.
Desta vez era diferente. Faltava uma semana, ele já pensava nisto há várias, e sabia o que lhe iria oferecer.
- Amanhã a Maria faz anos. – disse à Isabel.
- A Maria? – retorquiu surpreendida – A Maria?
- Sim. A Maria.
Isabel manteve-se em silêncio. Não sabia bem o que dizer nestas situações.
- Amanhã vou levar-lhe uma lembrança. Parece-me ser o melhor a fazer. A partir de determinada altura faz todo o sentido presentear nos aniversários.
- Pois... – disse Isabel. Não quis perguntar o que era.
Hoje, deitado no seu quarto, ele adormecia em paz.
Quando saiu de casa, na manhã seguinte, a primeira coisa que fez foi ir entregar a prenda de aniversário. A primeira prenda de aniversário que, desde que tem memória, entregava. Ainda os primeiros raios de Sol estavam a aparecer quando ele deixou o ramo de oliveira verde e um bilhete assinado: “Saudades eternas”.
Ficou durante uns momentos até se decidir ir embora.
- Parabéns! - disse-lhe antes de seguir o caminho de volta.
À saída do cemitério já o Sol se impunha e um novo dia começava.

N.C.

Composição Ex. 6 - António

- Chamo-me António, tenho a minha mãe em casa doente, cinco irmãos para tratar, vá lá!, uma ajudazinha faxavor!
Todos os dias, por volta das cinco horas da manhã, António era visto à porta da praça esperando os feirantes que enregelados despiam as carrinhas da fruta e abasteciam as bancadas dos mais frescos frutos e legumes. Era noite ainda. Não creio que tivesse dormido pois o seu rosto espelhava o cansaço de mais um serão em claro. Vestia umas calças de bombazina azul, coçado pelo uso, bainhas descosidas a arrojarem no chão, rotas e exageradamente largas. Tão largas que precisava de um sisal a prenderem-lhe as presilhas. Os ténis, esses tinham perdido a cor. Os dedos dos pés dentro das meias passavam para o exterior e espelhavam bem a miséria da sua curta vida.
- Vá lá! Um euro faxavor! A minha mãe tá em casa a dormir e os meus irmãos querem comer...
- Vai-te embora rapaz! Não me faças zangar outra vez! Todos os dias é isto, ora bolas! Já te dei três bananas ontem e hoje já levaste um saco de laranjas! Não pode ser sempre. A tua mãe que trabalhe, tem muito bom corpo para isso, c’um caneco! Xô!!
António chorava, as lágrimas misturavam-se com o ranho e a sujidade. Tremia de frio. Estava de tal modo enregelado que o seu rosto depressa ficou arroxeado!
- Olhó rapaz que não está bem Estrudes! - gritou para a mulher, o Sr. João dos melões – que miséria...!
O Sr. João era assim chamado por duas razões; porque a mulher era dotada de um peito volumoso e a segunda porque na verdade vivia dos melões que vendia. Os colegas de bancada faziam chacota e riam: “Oh João, olhós melões a balançarem...ainda caiem ao chão e catrapum!...”
O Sr. João dirigiu-se ao rapaz, mandando para o chão o que restava do cigarro.
- Anda cá rapaz, toma lá um copo de café com leite quente que o João tem ali no termo dentro da carrinha. O leite vai aquecer-te e depois ficas ali deitado, embrulhado nesta manta. Deixa-te ficar, que depois levo-te a casa.
António deixou-se ir, entregando-se nos braços daquele homem bom. Não era a primeira vez que se sentia desvanecer e não era igualmente a primeira vez que o Sr. João dos melões lhe pegava ao colo para o confortar.
Era o melhor colo que alguma vez tivera. Aqueles escassos minutos de carinho e dedicação davam-lhe força para o resto do dia.

M.L.

13.12.04

O Desafio

O Desafio é de todos ou, se preferirem, o desafio é para todos.

Por isso, realizem os exercícios e enviem por email ou coloquem nos comentários do enunciado.

O email é desafioescrever (arroba) yahoo (ponto) com

12.12.04

Exercício 6 - Sopa de Letras

Material necessário:
Papel
Caneta

Inspiração:
1. Dançar1. Framboesa1. Azul1. Noite
2. Comer2. Cortina2. Vermelho2. Beco
3. Zangar3. Brincos3. Amarelo3. Madrugada
4. Morder4. Faca4. Carmim4. Avenida
5. Contaminar5. Cigarro5. Cinza5. Meio Dia
6. Desconfiar6. Máscara6. Lilás6. Quarto
7. Mentir7. Escultura7. Verde7. Praça

Exercício:
Escolhe um número de 1 a 7. E mais outro número (de 1 a 7). e mais um. E um quarto e último.
Agora, e com os números que escolheste, vais fazer-lhes corresponder 4 palavras de entre as 28 que se encontram na Inspiração.
Essas 4 palavras terão de fazer parte da história que vais agora escrever.
Deverá ter, no máximo, 2 páginas e não deverás demorar mais de 15 minutos a escrevê-la.


in, desafio: escrever


Liberdade de criação: Do Som das Palavras à Música das Frases

"Das palavras às frases, um percurso árduo, divertido e compensador"

10.12.04

Composição Ex. 5 - A Tela

Olhar ternurento, espelhado de azul,
Sorriso quente e confortante
Palavras meigas e amigas…
Devoraste o meu ser e iludiste-me.
Desapareceste.
Pinto um quadro e
Interiorizo um tempo
Para ficar contigo.
Na última passagem de tinta
Nesta tela, vou ter-te.
E pinto neste quadro branco
Todos os minutos que passei
Ao teu lado sem te ter.
Pinto de verde a saudade
Que teima em não passar,
Pinto de vermelho a dor que
Tenho nos meus olhos, de chorar.
A loucura traço a negro …
Eu sei que te vou ter
E vou pintando.
As lágrimas mancham a tela
Mas vou pintando.
Mais um mês e o quadro
Ainda mal começou
E já está cheio de cores…
Onde pinto a esperança?
Pode ser em cima deste poro mínimo.
Acabei
E não estás cá.
Já não sei se te vou ter.

ML

Composição Ex. 5 - Sorriso

Liberta-me
Não existe prisão mais segura
Que aquela
Onde estamos
E de onde não saímos
Porque dela gostamos

Deixa-me
Não preciso que me prendas
a alma
sem aviso
ainda que seja com
um sorriso

N.C.

9.12.04

150 anos

Faz hoje 150 anos que morreu Almeida Garret.

No Público e no Instituto Camões.

8.12.04

Exercício 5 - Poesia I

Material necessário:
Papel
Caneta

Inspiração:
"Que tristeza tão inútil essas mãos

Que nem sequer são flores
que se dêem:
abertas são apenas abandono
fechadas são pálpebras imensas
carregadas de sono."

As Mãos, de Eugénio de Andrade

Exercício:
O poeta descreve acima umas mãos.

Procura, também, algo simples para observar - uma flor, um fruto, um sorriso, um peixe dourado no aquário.
Agora tenta utilizar uma linguagem próxima da poesia, capaz de causar sensações e emoções.

in, desafio: escrever

Composição Ex. 4

Josefa conhece o Pedro desde os 3 anos. Foi nessa altura que começou a trabalhar para a família e quando o 'menino' Pedro, como costuma dizer, foi morar sozinho ela acompanhou-o para ajudar nas limpezas. Faz cinco anos que, todas as segundas, Josefa apanha o autocarro até ao Príncipe Real e segue a pé até ao estúdio que o Pedro utiliza como casa e como atelier.
O Pedro estuda arquitectura e a casa está repleta de puzzles de cortiça que Josefa tem dificuldade em decifrar.
- São trabalhos em relevo. - explicou-lhe um dia.
Josefa acenou com a cabeça enquanto se esforçava por emitir alguns sons exclamativos. Nunca mais comentou os trabalhos com o menino. Josefa precisava tanto de entender os trabalhos de Pedro como precisava de saber ler e escrever. Tal como o marido, que era analfabeto, ela também só conseguia escrever o seu nome e sentia-se perfeitamente confortável com isso.

Desde os 12 anos do Pedro, altura em que começou com as manias da arte, que Josefa está habituada às peculiaridades do menino.
- O menino veste-se de luzes apagadas? - perguntava-lhe quando ainda o via todos os dias.
- Não Josefa - respondia ele com um sorriso -, de olhos fechados.
Mas o pior nem sempre foram as roupas. Estranho foi mesmo quando, depois da primeira aula de ciências da natureza, ele chegou a casa e pediu à mãe um porco-espinho para animal de estimação. Nesse dia ouviu o professor falar dos poderes curativos das picadas.
A mãe ofereceu-lhe um casal de periquitos depois de lhe dar um ensaboadela acerca dos perigos dos animais selvagens. Ele percebeu que não iria seguir ciências como carreira e dedicou-se às artes. Começou a pintar professores cuja face parecia estar em pleno tratamento de acupunctura.

Naquela segunda, quando Josefa tocou à campainha o Pedro já tinha saído. Enquanto fazia a cama descobriu, debaixo da almofada que se encontrava à beira da cama, o colar de pérolas da D. Teresa, mãe de Pedro, e um ovo cozido.
- Que estranho. – pensou consigo mesma - Ainda na sexta-feira passada a D. Teresa estava com o colar na mão.
Pegou no ovo e colocou-o no frigorífico. Josefa não suportava ver as coisas fora do seu lugar.
Nesse momento o Pedro entra em casa ofegante.
- Olá Josefa! – Exclama enquanto pára para recuperar o fôlego - Já ia na estação quando percebi que me esqueci do mais importante. Não viste o colar da minha mãe?
- Sim menino – respondeu Josefa - , coloquei-o na mesa de cabeceira. Estava debaixo da sua almofada juntamente com um ovo cozido.
- Eh pá, esqueci-me também do lanche.
- Está no frigorifico menino Pedro.
- Obrigado Josefa, tenho de me ir já embora. Hoje é o Baile de Finalistas e tenho de levar o colar à Isabel.
- Beijinhos à menina – gritou Josefa já depois de Pedro ter batido com a porta. Josefa gostava muito da namorada do Pedro. Essa sim, pensava ela, era uma verdadeira pérola.

N.C.

7.12.04

Composição Ex. 4

São 8h da manhã de segunda-feira e Pedro acorda com o tilintar da chave na fechadura. Desde criança que conhece Josefa, a fiel empregada de limpeza que sempre o tratou por “menino Pedro”.
Hoje, Pedro deseja que ela não viesse. Teria preferido viver naquela imundície de quarto mais uma semana e ficar a preguiçar até à 1 da tarde…tinha tirado o dia para descansar e esqueceu-se de a avisar que não era necessário ir trabalhar nessa manhã.
- Menino Pedro, posso entrar?!
- Não! Ou melhor, entra! – Respondeu enquanto se levantava, cambaleando e levando atrás de si uma toalha branca com um patinho bordado. O cabelo estava de tal modo alvoroçado que mais parecia os alfinetes de um porco-espinho - enquanto eu vou ao WC, arrumas o estúdio o mais depressa que puderes e sais. Hoje quero o dia só para mim.
“Mais uma noitada!”, pensou ela ao mesmo tempo que entrava no quarto inalando centenas de cheiros misturados; tabaco, perfume evaporado e para além do normal, um cheiro estranho a gazes intestinais, nauseabundo.
- Credo!, o menino Pedro anda metido nesses restaurantes e é o que dá. Tá aqui tá a apanhar uma gastroenterite e depois é que são elas!”.
Ao sacudir os lençóis apercebe-se de algo muito estranho: um ovo cozido, meio dentado, debaixo da almofada. Tinha finalmente desvendado a origem do cheiro insuportável a bufas quentes. Mas o que fazia ele com um ovo cozido debaixo da almofada??
- E…o que é isto??? Um colar de pérolas???
Zefa não queria crer no que estava a ver. Tão bizarro era o ovo ali como um colar de pérolas negras, pesado, com 2 esferas a rolar nas dobras do lençol, que no seu fraco entender devia valer uma fortuna. Por milésimos de segundo passaram-lhe ideias pela cabeça, mas não teve a ousadia de perguntar o que quer que fosse. Conhecia-o há muitos anos, contudo, sempre respeitou o seu espaço e nunca se metera na sua vida. Retirou os objectos do lugar com as pontas dos dedos para poder esticar os lençóis e ajeitar a almofada e colocou-os no rebordo do estirador. Depois de limpar o pó e de arrumar o seu único livro de cabeceira “Poemas de um analfabeto”, abre a porta do quarto e sai.
Na segunda feira seguinte e ainda com a esperança de desvendar o mistério do ovo cozido e do colar de pérolas negro, Zefa apercebe-se que debaixo do candeeiro opaco branco, está uma mensagem inscrita num pedaço de papel amarrotado: “…Ao fim de 15 dias, por cada sonho realizado morde uma dentada de ovo sem tocar na gema, e retira uma pérola negra do fio…”
- Bahhh….O menino Pedro sempre foi dado a estas coisas….

M.L.

6.12.04

Exercício 4 - Estranha realidade

Material necessário:
Papel
Caneta

Inspiração:
Josefa é empregada de limpeza. Como de costume, à segunda feira de manhã, limpa o estúdio do menino Pedro, que "estuda para arquitecto".

Esta manhã deparou-se com uma estranha realidade: debaixo da almofada, da sua cama de solteiro, encontrou um colar de pérolas e um ovo cozido.

Exercício:
Um colar de pérolas e um ovo cozido debaixo de uma almofada... ora aí está uma situação bizarra!

Mas é precisamente com base nesta bizarra realidade que vais escrever um pequeno texto, onde deverão ainda figurar as palavras analfabeto e porco-espinho.

in, desafio: escrever

5.12.04

Composição Ex. 3 - "The Impossible Dream"

Admito que toda a gente sente o seu poder, nem que seja uma vez, ao longo da sua vida.
Há quem sinta, do primeiro ao último passo que dá, essa força sempre a seu lado.
Há quem oiça falar dele, quem já o tenha sentido, mas nunca o tenha visto e, na impossibilidade de lhe tocar, tenha desistido.
Há quem, simplesmente, não acredite.

Eu acredito no poder do sonho. O sonho é faz-nos acreditar que é possível, se necessário, mover uma montanha. O sonho tem a capacidade de se tornar verdadeiro. O sonho faz-nos viver.

O que falta perceber é que o sonho não é um fim em si. Falta perceber que o sonho não nos sai na lotaria. Falta perceber que o sonho, antes de ser um destino, é o caminho que trilhamos.

Todos nós precisamos do nosso sonho...

por muito impossível que se afigure.

N.C.

The Impossible Dream

Composição Ex. 3 - "Everybody's Changing"

Há musicas que fazem parte das nossas memórias, permanecendo imortais, fazendo despertar todos os nossos sentidos. Momentos mais frágeis, de euforia, nostálgicos vêm à tona. Entram-nos no ouvido, gostamos e queremos ouvi-la vezes sem conta, repeti-la, decorá-la e gritá-la. Para este exercício seria mais fácil pôr um cd que fizesse reviver um momento especial da minha vida e inspirar-me, inalando o som e expulsando-o em palavras para o papel. Mas não. Há uma música especial, actual, que me faz quase parar o carro, fechar os olhos e pedir que a tornem a tocar. Acontece-me raras vezes mas desta vez aconteceu com "Everybody's Changing". Fecho os olhos, fico com pele de galinha talvez por me identificar com a letra e a melodia. Vou buscar momentos passados e presentes. Preparo até um futuro com o sentimento que ela me faz despertar. Permaneço assim, 3 minutos e 36 segundos de olhos cerrados. É como se a minha alma fosse varrida por uma sensação máxima de prazer. No fim acordo dos 3 minutos e apercebo-me que sempre é verdade: “…Everybody's changing And I don't feel the same… Everybody's changing and I don't feel right.

M.L.

Everybody's Changing