21.12.04

Composição Ex. 8 - No Sofá

Casei com a Joana há 6 anos. Sempre tivemos uma vida familiar saudável, sem extravagâncias, mas com o conforto que nos permitia dizer que tínhamos tudo o que precisávamos. O importante sempre foi garantir o futuro da Maria, a nossa filha. A nossa vida sexual nunca me desagradou e admito que à Joana também não. Pelo menos ela nunca se queixou.
O problema surgiu depois de, há uns tempos, ter começado a comer a minha vizinha do 5º andar. Digo-lhe que ela não é nada de especial, mas vi ali uma oportunidade e ela também não enjeitou a possibilidade de umas sessões de sexo selvagem e irreverente comigo. Não foi preciso muito. Ajudei-a, numa noite, a fazer as contas do condomínio e quando dei por mim já só fazíamos contas de somar: eu dizia os números e ela dizia mais, maais, maaais... Andávamos nisto há uns três meses quando, numa tarde em que saiu mais cedo, a minha mulher vai bater à porta da Isabel. Até hoje, foi a única vez que senti um arrepio de frio a percorrer-me o corpo. Se ela me descobrisse ali estava bem lixado.
A Isabel e ela são amigas. Se calhar, amigas não é o termo mais indicado. A Joana costuma falar com a Isabel de vez em quando.
Nessa tarde bateu à porta e a Isabel apareceu de roupão dizendo que tinha estado a dormir a sesta. Acha que a Joana se incomodou com isso? Naaada!! Perguntou logo se podia entrar um bocadinho pois precisava de desabafar. Se precisava de desabafar tivesse vindo ao psiquiatra ou ao psicólogo, não é? O dr. é bom para desabafar. Quando ela disse isso, quem precisou de desabafar fui eu. Abri logo a janela do quarto da Isabel com falta de ar. Então não é que a Joana entra e começa a dizer à Isabel que acha que eu tenho outra, que me ando a comportar de forma diferente e que já não a desejo. Se ela soubesse como eu desejava vê-la dali p’ra fora. Nisto diz que eu já nem lhe atendo o telemóvel e enquanto dizia “queres ver” começa a ligar o meu número. Tenho eu tempo para alguma coisa? Não tarda começa o meu telemóvel a tocar no quarto da Isabel. Grande estardalhaço. Salto para cima da roupa, que estava no chão, e, enquanto voo como um falcão pronto a agarrar sua presa, bato com a cabeça na cómoda do quarto que me deixa KO.

Depois disso... olhe, estou aqui.

Nesse dia não me deixou entrar em casa e no dia seguinte já tinha mudado a fechadura. Não me deu qualquer tipo de possibilidade de explicar a situação e deixou-me ao abandono sem mostrar qualquer espécie de ressentimento ou mágoa. Isto faz-se? Seis anos casados e trata-me desta maneira. O meu maior medo é não poder ver mais a minha filha. Se depender da mãe, sei que nunca mais lhe ponho a vista em cima. Só posso imaginar o que ela já lhe terá metido na cabeça... uma rapariga tão esperta, mas, sabe como é, nesta idade comem tudo sem pensar por eles e se a mãe quiser nem precisa do tribunal para me afastar dela, basta contaminar a sua cabeça com cobras e lagartos acerca de mim. Desta cena toda ao tribunal e do tribunal aqui foi um passo. A juíza até é porreira, mas é mãe e... é mulher. O dr. percebe, né?
Enfim... Com isto já passou a nossa meia hora. Sabe dr., esta vida é uma tristeza. Até p’rá semana.

N.C.

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