7.12.04

Composição Ex. 4

São 8h da manhã de segunda-feira e Pedro acorda com o tilintar da chave na fechadura. Desde criança que conhece Josefa, a fiel empregada de limpeza que sempre o tratou por “menino Pedro”.
Hoje, Pedro deseja que ela não viesse. Teria preferido viver naquela imundície de quarto mais uma semana e ficar a preguiçar até à 1 da tarde…tinha tirado o dia para descansar e esqueceu-se de a avisar que não era necessário ir trabalhar nessa manhã.
- Menino Pedro, posso entrar?!
- Não! Ou melhor, entra! – Respondeu enquanto se levantava, cambaleando e levando atrás de si uma toalha branca com um patinho bordado. O cabelo estava de tal modo alvoroçado que mais parecia os alfinetes de um porco-espinho - enquanto eu vou ao WC, arrumas o estúdio o mais depressa que puderes e sais. Hoje quero o dia só para mim.
“Mais uma noitada!”, pensou ela ao mesmo tempo que entrava no quarto inalando centenas de cheiros misturados; tabaco, perfume evaporado e para além do normal, um cheiro estranho a gazes intestinais, nauseabundo.
- Credo!, o menino Pedro anda metido nesses restaurantes e é o que dá. Tá aqui tá a apanhar uma gastroenterite e depois é que são elas!”.
Ao sacudir os lençóis apercebe-se de algo muito estranho: um ovo cozido, meio dentado, debaixo da almofada. Tinha finalmente desvendado a origem do cheiro insuportável a bufas quentes. Mas o que fazia ele com um ovo cozido debaixo da almofada??
- E…o que é isto??? Um colar de pérolas???
Zefa não queria crer no que estava a ver. Tão bizarro era o ovo ali como um colar de pérolas negras, pesado, com 2 esferas a rolar nas dobras do lençol, que no seu fraco entender devia valer uma fortuna. Por milésimos de segundo passaram-lhe ideias pela cabeça, mas não teve a ousadia de perguntar o que quer que fosse. Conhecia-o há muitos anos, contudo, sempre respeitou o seu espaço e nunca se metera na sua vida. Retirou os objectos do lugar com as pontas dos dedos para poder esticar os lençóis e ajeitar a almofada e colocou-os no rebordo do estirador. Depois de limpar o pó e de arrumar o seu único livro de cabeceira “Poemas de um analfabeto”, abre a porta do quarto e sai.
Na segunda feira seguinte e ainda com a esperança de desvendar o mistério do ovo cozido e do colar de pérolas negro, Zefa apercebe-se que debaixo do candeeiro opaco branco, está uma mensagem inscrita num pedaço de papel amarrotado: “…Ao fim de 15 dias, por cada sonho realizado morde uma dentada de ovo sem tocar na gema, e retira uma pérola negra do fio…”
- Bahhh….O menino Pedro sempre foi dado a estas coisas….

M.L.

Sem comentários: